sábado, 18 de setembro de 2010

Silêncio!

Acordo, tudo me parece irreal, o silêncio reina em todos os cantos do meu quarto, a minha respiração é demasiado gasta, demasiado humana para quebrar esse silêncio, o silêncio que enche o ar, que enche os móveis, que enche tudo, que me enche a mim.



Adormeço e sonho, tudo o que vejo é real demasiado real para ser um sonho, demasiado real para ser real; estou sozinho no meio da multidão o ruído da cidade apenas incomoda o meu corpo, fá-lo mover-se apressadamente, como que a fugir de algo, algo invisível, algo como o silêncio.



Volto a acordar, agora é a pressa que me domina, a pressa de encontrar algo que nunca procurei, alguém que nunca conheci, algo ou alguém que me acalme este pânico, que me cure esta dor, que retire este silêncio do coração.



Corro, corro contra o vento, contra a chuva, contra o calor, contra mim, corro acima de tudo contra o silêncio, e perco, perco contra o vento, contra a chuva, contra o calor, contra mim, perco acima de tudo contra o silêncio; e caio desfeito, derrotado, humilhado, feliz…



Caminho, caminho calmamente. Não estou sozinho, o vento, a chuva, o calor, o silêncio acompanham-me; o pânico, a dor, o silêncio acompanham-me; a multidão, o silêncio acompanham-me; silêncio acompanha-me. Continuo desfeito, derrotado, humilhado, feliz, continuo à procura de algo ou alguém, continuo a sonhar, o silêncio continua a reinar.


Obrigado Deus, por este silêncio!


1 comentário:

  1. «À procura, procura o vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a minha força é imortal.»

    José Luís Peixoto, Cemitério de Pianos

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