quinta-feira, 22 de maio de 2014

Amar e/é sofrer...



Há coisas a que só damos valor quando desaparecem. “Mas isso são saudades, se sentimos falta é porque gostamos, antes e depois de perder.”. Não se trata de gostar ou não gostar, trata-se de mostrar o que sentimos, de tratarmos bem, de mimarmos, de fazermos o outro feliz só porque gostamos dele. “Mas isso só torna mais difícil a perda.”. É verdade, mas a vida é isso: amar e sofrer. “Isso é tão masoquista”. E compensador. “Como compensador?”. Amares verdadeiramente alguém é tão delicioso como ser amado, sentir que alguém depende de ti para ser feliz e conseguires fazê-lo, é a melhor coisa do mundo! “E vale a pena? Mesmo que, no fim, percas tudo e sofras tanto?”. Sim, não há melhor forma de manter viva a memória de alguém do que sofreres com a sua partida. E sim, é doloroso e custa seguir em frente, mas sabe tão bem usufruir desse amor que sentimos e recebemos. “Mas se amares menos, sofrerás menos! Não seria mais simples? E até menos desgastante?”. Sim. Amar, mesmo sem a perda, custa, exige de nós, mas dá sentido à nossa vida, faz-me melhores e mais completos. E quando perdemos, o amor, que permanece para sempre em nós, muda-nos, faz-nos ser diferentes. “Ou seja: sofrer, para além de te deixar completamente triste, faz-te bem? Faz-te bem?”. Não é bom sofrer, mas é sinal que amaste, que deste de ti a alguém e foste feliz assim, e isso é tão bonito! “Bonito é, mas é doloroso e triste!”. Nunca amaste ninguém? “Já, e por isso é que te digo que não vale a pena!”. Não foste feliz enquanto amaste? “Fui, muito feliz mesmo, mas sofri e sofro tanto por ter perdido.”. Ao olhares para trás não ficas feliz ao recordar o quão feliz foste, o quão feliz fizeste essa pessoa? “Olhar para trás? Mas o presente é que conta, no presente é que eu sofro!”.  Pensa no passado, pensa no quão feliz eras… “No presente não o sou.”. Tu és aquilo que viveste, és cada sorriso que criaste, cada presente que deste, cada carinho que ofereceste. Tu és a felicidade que viveste. “E sou também a tristeza da ausência, a dor da perda!” Verdade. É normal estares e seres triste, eu também o estou e sou, mas ao mesmo seres feliz e orgulhoso do que fizeste e amaste! “Estar triste e contente ao mesmo tempo?”. E ser feliz e infeliz em simultâneo! “Ou seja, chorar com a perda e sorrir com aquilo que tivemos?”. Que tivemos e que permanece em nós, naquilo que somos. “Porque somos aquilo que vivemos, e somos um pouco da pessoa que amamos e amaremos sempre, chorando, sorrindo, relembrando!”. Exato! Agora, querida consciência, já me podes deixar dormir?



“Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.”
Ricardo Reis