Aqui,
no paraíso, olho pela janela do meu quarto e a chuva cai nas estradas e nos
passeios, rega as plantas e as pessoas que, desprevenidas neste dia tristonho,
desfilam em roupa primaveril e espírito desinibido, como deve ser aqui. Estas
tempestades chuvosas deviam ser proibidas no paraíso, onde tudo devia correr
bem e ser bonito. Afinal, um dia aqui é assim: belo, com um sol ameno que faz
sorrir os que o apanham, calmo e com uma leveza atmosférica que faz bem à alma
e à vida da gente. Hoje, com esta chuva, está tudo ao contrário, com um sol
tímido e gelado, um vento agitado e impaciente e um peso enorme nessa alma e
nessa vida desta gente que, apesar de tudo, vive no paraíso. E eu, habitante
deste lugar, não gosto nada desta chuva, destas lágrimas do céu que, como choro
que é, torna o mundo mais cinzento, mais desanimado e mais entristecido. É
incrível o efeito do tempo, da chuva, na gente do paraíso: a tristeza e o
desânimo deste choro deixam as pessoas desmotivadas com a vida, sem vontade na
conquista de alguma coisa, sem força nem felicidade, com medo de tudo e de
qualquer lágrima que caia do céu.
Num
olhar mais atento encontro, atrás das nuvens desta chuva, a luz constante do
Sol do paraíso, mais cinzenta e ténue mas presente mesmo com a água tão teimosa.
Pela janela continuo a ver pessoas: a sair de casa com impermeáveis e
guarda-chuvas, a entrarem em cafés e livrarias protegidas, a enfrentarem aquilo
que, ainda no parágrafo anterior, descrevi como intolerável para quem aqui
mora, e foi assim que, agora, percebi que a chuva não é assim tão má nem tão
aterrorizante, traz tristeza mas esta vem acompanhada por sabedoria, e num dia chuvoso com este
cabe-me a mim, a nós, encontrar a bonança durante a tempestade porque, mesmo
com tantos dias quentes e brilhantes, no paraíso também há dias de chuva.