sábado, 25 de setembro de 2010

O seu mundo...

   Debaixo duma chuva exageradamente fria, um menino passeia, saboreia o inexistente e gélido calor da noite, e sonha. Não sonha com a sua vida, não sonha com a sua cara-metade, não sonha com a sua família nem com os seus amigos, sonha com um mundo, um mundo como o que vive, um mundo ganancioso, egoísta, manchado de sangue e de lágrimas, e o menino, no sonho, muda esse mundo, torna-o novo, jovem, generoso e limpo, torna-o no seu mundo…

   Aquele menino cresce, torna-se jovem menino, generoso e limpo, mas o mundo em que vive, continua o mesmo, continua o mesmo mundo ganancioso, egoísta, manchado de sangue e de lágrimas, e o menino, agora jovem, debaixo de uma tempestade furiosa, torna a sonhar, e torna a mudar o mundo, o seu mundo, a torna-lo novo, jovem, generoso e limpo, torna a torna-lo no seu mundo…

   Do menino crescido, aparece um homem, novo, egoísta mas limpo, que debaixo de uma amena manhã de Maio, admira o seu mundo, o seu mundo ainda ganancioso, egoísta, manchado de sangue e de lágrimas, e esquecendo tudo o que possui, tudo o que conquistou, sonha, sonha como quando era um menino, sonha com o seu mundo, e muda-o, transforma-o num mundo novo, jovem, generoso e limpo, transforma-o no seu mundo…

   O menino tornou-se velho, tornou-se ganancioso, egoísta, sujo de sangue e de lágrimas, e numa calorosa tarde de verão, chora o mundo que tem, e volta a sonhar, volta a sonhar com o seu mundo ganancioso, egoísta, sujo de sangue e de lágrimas, e sonhando, transforma esse seu mundo, num mundo novo, jovem, generoso e limpo, transforma-o num mundo à imagem do menino…

   O menino velho morre, e como herança deixa apenas um mundo velho, ganancioso, egoísta, sujo de sangue e de lágrimas, e um texto, um texto de um menino debaixo de uma chuva exageradamente fria, que sonhava…

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