quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Amor, amor?

“Bom dia”. Tudo começou com um “bom dia”. Tudo começou como tem de começar, “bom dia”. E a resposta foi um pálido sorriso que encheu o corredor vazio com as palavras mudas que ficaram por dizer no meio de um diálogo que ficou por começar. E a trémula luz entre os dois olhares não diminuiu a magia de uma ponte de amor entre os dois corações que, secretamente pensavam em conjunto, sorriam em simultâneo, ouviam a mesma música, sentiam o mesmo sentimento que corria invisível por cada gesto nas duas vidas secreta e eternamente ligadas. E ao fim daquela melancólica manhã de puro e apaixonante silêncio há uma vontade enorme de quebrar todas as regras e ultrapassar todos os limites e ser feliz, há um instinto impresso em cada músculo e em cada veia que pede para cometer a loucura de sorrir com sinceridade, há a coragem momentânea para cometer a loucura de amar aquele “bom dia” que nos confunde o coração e aquece a alma, há… …  
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“Adeus”. Tudo terminou com um “adeus”. Tudo acabou como tem de acabar, “adeus”. A lágrima sofrida de uma resposta seca e dolorosa ficou contida no olho que era espelho de uma dor mútua e comum às quatro pernas que se afastavam como um ponteiro se afasta daquela hora imortal e segue para um futuro ritmado passando repetidamente por quartos velhos e carregados de choro, inundados com cinco letras de amor que o destino decidiu destruir, inundados com rios salgados nascidos nas montanhas redondas de duas vidas separadas para uma eternidade que o abismo não suporta e que a morte não deseja. E depois de tantas noites de lágrimas sinceras, há um retorno impossível que a alma quer, há “desculpa-me” suplicante que ficará suspenso no sofrimento da solidão, há um abraço de esperança queimado com as cinzas de uma paixão morta com o lume de um amor extinto, há… …
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Misturados com a luz de uma felicidade enraizada nos rostos sorridentes surgiam milagrosos abraços quentes como uma tarde de agosto escaldadas pela força de um amor que existia em cada poro de um corpo agarrado a outro num momento para além da loucura, do prazer, num momento de carinho e ternura. Perdidas num olhar selvagem de coragem e força criavam promessas de uma eternidade em que acreditavam com a mesma alma e o mesmo coração que os fazia fechar os olhos em cada beijo e acreditar que o mundo não importava e que tinham tudo o que precisavam para voar para sempre num amor puro e perfeito partilhado nas migalhas de um pequeno-almoço apressado, relembrado em cada tarefa rotineira de um dia preenchido até aos ossos, vivido num jantar quente e saboroso como a música da uma dança de quatro pés, sentido num “amo-te” sussurrado ao lado de um “boa noite”. E nesse dia de amor há paixão de uma saudade já querida, há brilho nos pequenos olhos felizes, não há data de um fim que todos sabem que nunca chegará por serem eternos naquilo a que se orgulham de chamar amor.

2 comentários:

  1. Rapaz,

    (1) li o texto,
    (2) formulei uma opinião,
    (3) voltei a ler o texto e
    (4) amo-te, mano.

    A sério, obrigado por partilhares comigo as coisas que escreves. Sobretudo agora que, aluado como ando, esqueço-me deste teu baú aberto e à espreita de opiniões sinceras perante o inegável:

    o teu enorme amor pela escrita e o teu enorme amor pela pessoa que está por detrás da tua escrita.

    És um pirralho especial. A tua escrita continua, é verdade, uma pirralha igualmente especial, muito emotiva, mas com aqueles laivos domésticos, aquelas pequenas coisas do dia-a-dia que te chamam a atenção e que dão outro mérito às tuas palavras.

    Porque és diferente e tens uma sensibilidade diferente dos miúdos da tua geração (pelo menos, daqueles miúdos que entram nas estatísticas negras das óbvias e demolidoras generalizações).

    O grande beneficiado, no meio disto tudo, sou eu, por te conhecer e gabar-me de ti com unhas e dentes sempre que converso com pessoas que, provavelmente, nunca irás conhecer, falando do Rui que tem um blog repleto de palavras quentes e que está genuinamente apaixonado.

    Mais uma vez, tento ser objetivo e falar apenas do teu texto, mas perco-me a falar da tua pessoa (ou do que és para mim como pessoa, assim criado à distância, coisas da vida). É difícil por tudo me parecer autobiográfico (quando li a parte do "Adeus", corri para o Facebook para ver se o teu estado civil tinha sido alterado... foram uns dois segundos de pânico, mas depois voltei à paz inicial).

    :)

    Tens algumas incorreções a nível sintático que, com treino, serás capaz de superar. A nível de conteúdo expressivo, notei uma certa contenção da tua parte para evitar que o texto caísse no "melodrama" e se aproximasse mais da aura estética que nos faz, hoje, contemplar um texto do José Luís Peixoto (por exemplo) como um texto literário (ainda é cedo para saberes ao certo o que isto é, mas vais crescendo e vais descobrindo... a tua sensibilidade vai refinando aos bocadinhos).

    Deu-me a sensação de que, dentro de cada uma das três partes, a ação desenrola-se depressa de mais, ou seja, poderias ter degustado um pouco mais as descrições, as sensações, pequenos detalhes que pudessem contribuir para essa coisa da "literariedade" de um texto.

    Adorei a última frase, entre outras passagens, mas a última frase ficou-me na cabeça e na areia que tenho dentro dela. :)

    A sério, Rui, parabéns.

    Se fosses meu irmão, levava-te agora ao café e pagava-te uma mini e dava-te um abraço. (E pedia-te um lenço de papel para assoar o nariz... Às escondidas, porque nunca choro em público, não sei como é que isso se faz.)

    :')

    Soube-me bem escrever tudo isto de rajada. Os meus dedos precisavam deste bocadinho de ginástica.

    Love you, kiddo. Continua.

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  2. Está fixe!!!! Parabéns!!! Continua a escrever

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