segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Dois parágrafos, duas vidas, um beijo.


Cada gota de chuva era contada com a mesma vontade que era impressa nos pedais da pequena bicicleta azul quando, noutros verões e noutros invernos, subia e descia aquela rampa despida de segredos vezes sem conta e fazia, no meu íntimo, relatos de uma corrida que ganhava sempre no último metro no último segundo. E cada palavra da voz cansada do meu pai era ouvida com o mesmo entusiasmo que, no meio dos legos coloridos, era vivido perante a atenção de quem, diariamente, lá passava para visitar o “menino”. E cada gesto teu era sentido com todo o amor que, um dia, me saltou do peito e percorreu cada osso do meu esqueleto e cada célula do meu organismo antes de, carinhosamente, se transformar num “amo-te” e num beijo eternamente único por ser teu e meu e nosso, num beijo capaz de inundar um oceano e partir qualquer continente, num beijo capaz de nos fazer felizes, juntos.
E depois desta eternidade melancolicamente vivida ao sabor de um vento salgado pouco resta de um parágrafo brilhante que noutra vida escrevi. A vontade desapareceu com a chuva num campo por cultivar. O entusiasmo foi embora com a voz do meu pai e com as visitas diárias para outras casas, outros mundos, outras pessoas. E o amor, o amor perdeu-se com todos os teus gestos para a gaveta das memórias carregadas do pó da felicidade de um beijo que, no final, deixa como sempre esteve, perfeito.

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