quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Technology


   Aqui na casa que me sempre teve, ouço o ruído da voz de algum jornalista que discursa catástrofes na televisão, ouço o rádio ligado que passa uma música dos anos 80 que todos cantaram e todos esqueceram, na cozinha a minha mãe é escrava do fogão eterno que acompanhou cada refeição que tomei, o meu pai faz remodelações no frigorífico que me ofereceu alegrias sem fim, a minha irmã dorme no quarto agarrada ao teclado em sonhos com ligação à Internet. Possivelmente, no andar de baixo está um primo meu, ou dois, ou três, viciados na realidade da consola, e ao meu lado a minha prima muda tecla letras e números num aparelho móvel de chamadas. Os meus tios chegam e calam o jornalista já cansado e perdem o olhar numa partida de futebol, um deles cala também o rádio e a música esquecida. Eu, saio daquele filme de sala de estar e entro no meu quarto onde o meu mundo virtual experimenta a escuridão do ecrã desligado, e na minha secretária o meu telemóvel toca, mas resisto e deito-me com um lápis com que escrevo linhas puras e sem fios ou teclas que são, naquele momento, a minha vida, a minha esperança, as minhas armas nesta guerra contra a imobilidade do vício virtual que me vai vencendo lentamente com o toque intenso do telemóvel e com a beleza do botão que me chama a usá-lo. E luto, luto e luto, mas perco, caio e desisto de tentar viver derrotando a complexidade binária que me rodeia, e rendo-me ao mundo frio e moderno da tecnologia. Atendo o telemóvel e carrego no “turn on” do computador.

3 comentários:

  1. Usas matéria bruta eletrónica e transforma-la em matéria prima poética! Wow!

    Gostei muito :)

    P.S. Fica mais atento às tuas gralhas... estou sempre a implicar com o mesmo, eu sei, mas não posso estar sempre a dizer exclusivamente coisas boas... senão qualquer dia ninguém te atura o ego! :D

    Abraço

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  2. Realmente muito bom!! Só tu para escreveres assim!! CONTINUA!! amo o teu blog *-*

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