sábado, 2 de julho de 2011

O meu quarto...


Olho o quarto com um sorriso de memórias e um olhar de mágoa pelo mofo das coisas e pelo tempo refletido na janela que outrora escondera o teu mundo do meu e o meu mundo do teu, e absorvo cada pedaço de madeira ora castanha ora azul, e confundo o branco da minha esperança com a cal das paredes esmurradas e pontapeadas com beijos e sorrisos, paixões e amores. E nesse momento as lágrimas traem-me os olhos e caem em direção ao tapete cheio de anos e pesado com o peso de um mundo e de outro mundo e ainda de outro mundo. E o brilho do meu olhar leva-me àquela mesinha de cabeceira de gavetas cheias meias (,) palavras e sentimentos ou preenchidas com a roupa que vestia o meu interior perdido em armários de puzzles que marcaram esse tempo em que tudo era perfeito, em que eu desconhecia o mundo e tudo era perfeito ou outras ainda repletas de passado de um universo que amei e idolatrei, com sentimentos e sorrisos, com alegrias e lágrimas. E paro, o meu olhar pára durante longos momentos sobre a camada de pó que cobre aquilo que fora o meu “bode expiatório”, o pó que não traduz as teclas gastas que fizeram de mim aquilo que hoje me gabo de ser, o pó que esconde os ídolos e mitos que criei e destruí em momentos de raiva loucura e prazer, o pó que mente sobre o amor que espalhei por uma página em branco numa invenção divina por mãos humanas e sorrio, saboreio a lágrima que me toca os lábios e sorrio porque relembro aquele que continua a ser o meu templo, o meu abrigo, o meu porto, o meu mundo… E hoje faço como ao longo de tantos anos fiz e puxei os lençóis e deitei-me na cama de riscas amarelas e azuis e olho a prenda que aquele Natal me trouxe, fecho os olhos e adormeço com o sorriso de quem está feliz por estar ali…

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