quarta-feira, 13 de julho de 2011

O que mudou?


   Naquela tarde desértica do início de dezembro tudo tinha mudado, tudo estava diferente e nada, nada mesmo, estava como estivera. Menos a cor, a cor era a mesma, o telhado da casa continuava laranja, a cor dos meus olhos mantinha-se castanha e o inverno era, como sempre o fora, pintado pelas cores que a chuva e o frio usavam. E o cheiro, o cheiro talvez fosse o mesmo, por detrás de todas as constipações e gripes, o cheiro do pão-de-ló fresco e saboroso mantinha-se na mesa da cozinha, o perfume do meu pai teimava em inundar a casa de banho dele e a sala da televisão grande, e até o cheiro dos rissóis acabados de fritar da mim continuava preso ao seu eterno avental axadrezado. Mas o resto era diferente, o barulho mudou… Mas, os efeitos sonoros dos jogos dos meus primos eram os mesmos, os carros lá fora rugiam velozmente como antigamente, e minha irmã cantava a mesma música que sempre cantou e se calhar o barulho não mudou muito. Mudou tudo, menos a cor, o cheiro, o barulho, e menos as pessoas, as pessoas permaneciam pacientemente à espera de uma mudança que nunca haveria de chegar, a minha tia continuava a chegar com um sorriso permanente e a tagarelar horas a fio com a minha mãe que continuava a querer tudo impecavelmente arrumado e limpo, a minha insistia em trazer na sua bolsa uma piscina cheia de bons momentos e fantásticas recordações, a minha pequena irmã mantinha o seu amor pela música e massacrava alegremente os meus ouvidos atentos, tu não abandonavas o meu humilde e apaixonado coração, e por isso as pessoas não tinham mudado. E mesmo depois de tudo ter mudado, a natureza continuava calmamente gelada enquanto o meu pequeno cão abanava a cauda e soltava latidos de carinho a cada festa que lhe fazia no pêlo tentando esquecer o frio daquele inverno diferente por ser igual. Naquela tarde desértica do início de dezembro nada mudou e por isso tudo foi diferente…

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