sábado, 19 de novembro de 2011

A Luz


   Cheguei a casa e atirei a mochila para a cadeira vazia do meu quarto, mergulhei na minha cama pensativo e liguei a música como um fumador acende um cigarro, pus os auscultadores nos ouvidos como quem tira um isqueiro do bolso e liguei a música. Coldplay. Enquanto a música tocava eu folheava as páginas brancas de um livro qualquer que ainda não acabei de ler. Até que parei, o livro fechou-se e só a música não respeitou a paragem marcada na pauta que seguíamos: “Us Against The World”, arrepiei-me quando o vocalista cantou este verso que dá título à música, como se imaginasse, por dentro, aquilo que eu vivo e sinto, como se ao cantar aquele verso entrasse dentro de mim, lesse a minha história, visse o meu presente e cantasse aquilo que eu sou, cantou cada palavra como se vivesse a minha vida e te tivesse a ti, como se, de alguma forma, ele fosse eu e tu fosses dele, como se a nossa história fosse vendida em disco e ilegalmente retirada da Internet. Fiquei parado até ao fim da música e nem prestei atenção à faixa seguinte do CD, esbocei um sorriso e pensei em ti, longe destas quatro paredes que encerram comigo folhas e pergaminhos apaixonados pela luz que guia cada pedaço do meu corpo, pela luz que ilumina cada batimento do meu coração, pela luz que me faz amar cada segundo desta vida luminosa a dois e só a dois. Não me mexi e deixei o computador a gritar sons musicais para a imensidão do meu espaço. Adormeci. Desse sono quase eterno não relembro os sonhos espetaculares com cenas mirabolantes e cenários perfeitos, desse sono lembro apenas uma luz, a luz do meu adormecer e do meu acordar, a luz do meu viver e do meu dormir, a luz do meu andar e do meu pensar, a luz do meu mundo e do meu coração, a luz que és tu e somos nós, a luz que amo e amarei até que não reste nada deste cosmos iluminado eternamente em expansão e sem fim anunciado ou possível, a luz que, comigo, lutará contra um mundo, e outro, e outro até que sejamos apenas nós, eu, tu, a luz e este mundo que é nosso e só nosso…

1 comentário:

  1. Vale sempre a pena esperar para ler um texto teu, não interessa o tempo que demore!
    Em cada palavra tua encontramos paixão pelo que fazes e pelo que tens! És a prova viva de que não é preciso perder para dar valor!! ;)

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