Houve um dia em que o Benfica perdeu, sem
polémicas nem erros de arbitragem, simplesmente perdeu. Nessa noite fria de
domingo fiquei chateado e não me apetecia pensar em mais nada a não ser naquela
bola na trave que, pelo menos, empataria o jogo. “Amor, de que cor pinto as
unhas?”, a simplicidade da pergunta fez-me sorrir como quando tinha 17 anos e
lhe mandava sms’s apaixonadas a desejar boa noite. “Não sei, talvez verde...”,
respondi como se quisesse que aqueles 90 minutos de sofrimento não tivessem existido
e voltar àquele dia em que lhe pedi um abraço só para ver o seu sorriso sincero
e belo ao dizer “claro que dou”. “Verde será!”, apercebi-me, espantosamente,
que continuo a sentir o mesmo cada vez que ouço a voz dela, desde o primeiro
“bom dia” numa manhã primaveril até hoje, que sinto aquela falta de ar e
borboletas no estômago de quem está genuinamente apaixonado e sente cada síliba
como um beijo inesperado e inspirador. “Hoje não quero ver a novela.”, foi aí
que acordei para o castanho reconfortante dos seus olhos bonitos e esqueci, por
momentos, o futebol. “Hoje quero conversar, como nos bons velhos tempos.”, como
naquelas vezes em que deixávamos para trás a hora apropriada para ir dormir e
ficávamos a teclar olhares cúmplices e sonhadores e a sorrir para um ecrã
inanimado. “Tu estás triste e eu quero conversar.”, não pude deixar de abrir um
sorriso àquela preocupação espelhada num par de olhos muito abertos e
ternurentos, não pude deixar de encostar a sua cara quente no meu peito enquanto,
naquele silêncio aconchegante nessa noite fria de domingo, a minha alma era
feliz com aquela desconcertante bola na trave.
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