Um
dia ele saiu de casa como se de um dia normal se tratasse, sem preocupações ou
problemas por resolver. O seu caminho não mudou e até os habituais sorrisos
matinais foram sentidos e alegres como sempre são. Mas aquele “bom dia” a que
nunca ligara afetou-o de maneira diferente e inesperada, fez com que ele
olhasse à sua volta como quem nasce e respira pela primeira vez o ar puro de
uma floresta, fez com que ele reparasse naquela cara ensonada inundada por um
perfume de avelã lisa e com diamantes de amêndoas a olhar o horizonte fresco. Surpreendeu-se,
apesar de reconhecer a bonita silhueta feminina de todos aqueles chatos dias de
bocejos silenciosos à espera da hora exata para começar o trabalho, havia ali
algo novo, um dado diferente para os seus olhos, uma alma sem igual que aquele
músculo no seu peito desejou conhecer. Mas não, não foi com a alma incomparável
que ele se apaixonou por aquela menina cor de noz, foi com a subtileza dos
gestos femininos, suaves e sensuais, foi com aquela blusa de um branco humildemente
apertado e com aquelas calças em tons azulados a realçarem a simplicidade de um
piscar de olhos esporádico que lhe encheram o coração de batimentos acelerados
e estômago de borboletas teimosas e famintas.
Um
dia, um belo dia depois de todas as complexas brincadeiras, a guerra acabou, a
sua guerra por ela contra tudo o que teimava em obstruir aquele sentimento puro
e indestrutível acabou. Acabou como acabam todas as guerras, de repente, sem
explicação ou aviso prévio, com um “sim” momentâneo mas decisivo. Foi aí, nesse
dia, nesse “sim” dado com certezas e sorrisos que ele entendeu que era aquela
tímida figura sorridente que o separava daquilo que mais temia, a dor.
Um
dia, um outro dia, na prosperidade de um reino independente, não houve guerra,
a destruição não surgiu com balas ou explosões, foi no silêncio daquele “adeus”
que, sem ferro nem fogo, o mundo caiu num desespero penoso e numa dor
incontrolável, foi na velocidade daquele “acabou, desculpa” que todas as
certezas, todos os sonhos, todas as realidades que ele amor que o agarrava àquela
princesa guerreira que deixou aquele mundo de pantanas sem uma explicação, sem
uma palavra extra que lhe mostrasse que aquilo valeu a pena.
Foi
nesse dia, no “dia do adeus” que ela partiu, deixou aquele monarca sem reino
repleto de recordações e cidades por reconstruir, não levou o ouro outrora
brilhante daquela mente outrora feliz, não levou a prata daquela alma
escurecida com aquele dia em que até Sol dava um sabor amargo ao café e aos
biscoitos do lanche, só levou um pequeno e modesto coração que existia por
aqueles momentos de felicidade que recordava em cada forte e silencioso
batimento. Nesse dia de Sol amargo, o seu coração partiu com uma guerreira
apaixonante para um mundo desconhecido.
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