segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"Nem todos os dias são bons dias..." 2.0

  
   No meio de cada gesto de afeto dado ao som do uníssono bater de dois corações, ela pede-lhe que ele a ame para sempre, sempre. E ele, ingénua e verdadeiramente apaixonado, promete mais do que aquilo que pode dar, promete uma eternidade perfeita e uma perfeição eterna, promete ser o que ela quiser quando ela precisar, promete promete promete… E depois de a fazer sorrir ele pede-lhe que ela nunca o abandone, nunca. E ela, ingénua e verdadeiramente apaixonada, promete tudo o que mundo tem e imagina ter, promete ser tudo o que ele precisar quando ele quiser, promete promete promete… Promessas irreais que fazem dele o super-homem que ela idealizou, o príncipe encantado que lhe enche os sonhos, e que fazem dela a mulher-maravilha das BD’s interiores dele, a rainha do seu vasto e palpitante reino. Mas, no fundo, Eles sabem que a morte nunca perde e que ela leva sempre a melhor sobre o amor, Eles sabem que nem o grande Shakespeare conseguiu fazer o amor vencer a morte, eles sabem que, um dia, aquele mar de rosas colorido vai acabar, eles sabem que, um dia, nesse dia, o mundo perderá o amor de que se orgulha e a felicidade com que se glorifica, eles sabem que que, um dia, nesse dia, num lugar qualquer, as suas almas chorarão em simultâneo um fim nunca premeditado ou discutido, eles sabem mas não pensam. “Sabes que te amo?” pergunta ele com o mesmo sorriso de quem simplesmente pergunta as horas esperando estar ainda longe do fim do intervalo. “Sei. E também te amo!” é a resposta ensaiada por um coração que sabe tudo e não pensa em nada, e sorriem, oferecem um ao outro um sorriso forçado pela inocência de ser feliz, um sorriso sincero e belo como o amor que partilham. “Tens medo do fim?”, a preocupação notória na sua voz fê-la ter medo, fê-la perguntar: “que fim?”. A resposta envergonhada saiu-lhe da voz seguida de um silêncio perturbador e interminável: “o nosso fim.”. O mundo podia ter gritado nesse momento, tinha motivo, tinha força, tinha vontade mas nenhum dos dois ouviria esse esgar sonoro de dor, estavam perdidos numa corrente avassaladoramente rápida de pensamentos, de imagens, de momentos e de histórias. “Tenho, tenho muito medo”. Outro silêncio abismal foi quebrado por um abraço que disse tudo o que queriam dizer um ao outro: “amo-te”, “amo-te”.

3 comentários:

  1. Adorei! ;) continuo a ser a fã nr 3! :p

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  2. ... Já sabes o que penso quanto àquele assunto da "previsibilidade dos teus desenlaces", por isso não quero parecer rude e voltar a escrever sobre isso. Prefiro desta vez aconselhar-te a ler as crónicas do António Lobo Antunes, que saem todas as semanas na revista "Visão" e estão disponíveis on-line, o que é ótimo: ocasionalmente, quando te apetecer, enquanto lanchas ou fazes uma pausa nos estudos, lês as pequenas crónicas deste senhor.

    Provavelmente será o nosso próximo Nobel, mas talvez não seja muito bom atirares-te de cabeça, por enquanto, aos seus romances. A escrita antuniana é muito densa, muito obscura, muito crua e poética, porque escava até aos extremos a profundidade - com destaque para o lado mais negro - das personagens, ou melhor, do narrador, que se confunde "quase" sempre com o próprio autor.

    Pensei nele e nas suas crónicas precisamente porque tu gostas de falar de ti e gostas de fazê-lo em "pequenas" reflexões, textos relativamente curtos. Deixo-te aqui três sugestões:

    http://aeiou.visao.pt/estacao-de-servico=f612650

    http://aeiou.visao.pt/de-profundis=f531297

    http://aeiou.visao.pt/crepusculos=f601208

    Escolhi estes a pensar em ti, a pensar no teu potencial. Penso que não tens de fugir para outros mundos e personagens para que os teus textos sejam brilhantes e excelentes; não quero que leias estas sugestões antunianas como te estivesse a aliciar com um refúgio, um esconderijo dos teus hábitos de escrita. Não, amigo, o que me interessa é apenas mostrar-te que podes contar o que sentes, narrar o que vives, mostrar que amas quem amas, fazer TUDO o que tens feito até agora MAS recorrendo a palavras novas, a ousadias metafóricas diferentes, a arranjos temáticos arrojados, explorando novos sentidos e novas expressões que decorram da tua perceção do (teu) mundo.

    O Lobo Antunes disse isto recentemente numa entrevista: «Tenho-me dado conta de que temos dois universos: o que está à nossa volta e o de dentro de nós, do qual fazemos parte.»

    Tens um universo cheio de imensas galáxias, sóis, luas, astros, restos de astros, estrelas cadentes, nebulosas... tens tudo isto dentro de ti, só "precisas" (se quiseres) é de pôr esse cosmos no papel de uma maneira diferente, que não dê a sensação de se repetir. Tudo bem que a noite seja escura e a lua apareça e noite; podes dizê-lo assim tão crua e simplesmente, e o efeito final será certamente bonito e digno de aplausos. Mas podes dizer que a noite é branca e que, em vez da lua, tens uma bola esburacada que vais procurando preencher com restos de estrelas e caudas de cometas, porque a tua insónia consome-te e só te sentes bem a ocupar o vazio com luzes, porque é de luz que a tua vida é feita. E depois dizes que não precisas da luz da lua, porque tens o amor da tua vida que te ilumina, e que é esse o teu satélite, o teu sol e a tua lua. Não só dizes as coisas de maneira diferente, não só escreves algo bonito e digno de aplausos, como deixas quem te lê ansioso por saber o que vem a seguir.

    Vai explorando esse teu universo. E como estás apaixonado, acredito que esse cosmos esteja sempre em expansão (aliás, ouvi falar disso no telejornal...)

    :)

    Um abraço, de um universo para outro. Fica bem. Amo-te muito, sempre. Filho, aluno, irmão, amigo, colega, mestre, guru, de carne e osso ou em bonequinhos virtuais. Hoje simplesmente agradeço existires e não questiono absolutamente mais nada, como tem sido hábito meu recentemente. Continua a surpreender(-te).

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  3. Não sei porquê, mas apeteceu-me voltar aqui e propor-te o seguinte, na eventualidade de voltares (ainda) a reescrever este texto ou então de começares outro de raiz:

    1. Começa por escrever sobre ti, o sítio onde estás, como estás a escrever, como te sentes física e psicologicamente, de que cor é a caneca de chá que estás a beber, a que sabe a fatia de bolo que comeste e que ainda tens entre os dentes, se te sentes inspirado ou não, o que te levou a sentares-te nesse sítio, etc...

    2. Por uma razão qualquer desconhecida, recordas-te de alguém ou alguma coisa que tenha acontecido nesse dia, seja porque a cor azul da tua caneca te reenviou para a cor azul da camisola que fulano ou sicrano trazia vestido, quando A, B e C aconteceu, naquele sítio, inesperadamente, àquela hora, com aquela pessoa ao teu lado...

    3. Voltas a pensar em ti e questionas o porquê de isso te ter fascinado, te ter incomodado até fisicamente, sei lá... o teu próprio texto ganha voz e consciência, começa a resignar-se contigo, a entrar em conflito com as tuas próprias ideias, o texto tenta vencer-te ao misturar-se com esse episódio que te aconteceu...

    4. Continuas a descrever esse tal fenómeno, que pode ser uma coisa absolutamente ínfima, que tenha passado despercebida a toda a gente, menos a ti. Sem caíres no "lamechismo", descreves o impacto que isso tem em ti, para o bem e/ou para o mal, o porquê de isso ser (talvez) tão importante, ao ponto do teu texto, que é um ente vivo, achar que isso merece ser gravado, registado.

    5. Regressas a ti e dás um desfecho que reenvie ao teu lugar, ao teu tempo, à tua mesa, cama, quarto, sala, postura, sensação de (des)conforto...

    6. Agora volta ao início e faz de conta que tens de fazer tudo isto como se estivesses na minha cabeça, como se pudesses ser a minha pessoa, estando no meu lugar, com base naquilo que conheces (ou achas que conheces) de mim.

    Deu-me isto, assim, de repente. Calhou. O aluno a quem ia dar explicações não apareceu, e apeteceu-me simular uma aula contigo, assim à distância, para me sentir útil e produtivo...

    :')

    Um abraço, Rui.

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