Escrevo estas linhas como
um presente para ti, mãe. Não por ser o teu aniversário porque ainda não lá
chegamos, nem por ser natal que ainda está longe. Escrevo para celebrar mais um
dia a pensar em ti, como todos os dias, presenteio-te com este texto por motivo
nenhum e esse é o melhor motivo que se pode ter, como me ensinaste quando
trazias uma bola de Berlim que sabias ser a minha favorita só para veres o
brilho nos meus olhos enquanto comia. Muitos foram os presentes que me deste
fora dessas ocasiões especiais que as pessoas apregoam. Lembro-me dos livros
que te pedia da biblioteca e, mesmo sem tempo por causa do trabalho, arranjavas
forma de os trazer porque eu adorava ler, lembro-me dos brinquedos que, sem
aviso nem pedido, trazias para eu juntar à minha vasta e divertida coleção,
lembro-me dos jantares em que, mesmo cansada de uma semana dura, fazias o
bacalhau à Brás que eu adorava ou a carne estufada com batatas e arroz que
nunca me cansava de comer, lembro-me das brincadeiras e dos carinhos que
marcavam o serão da nossa casa e eram o melhor presente que eu podia receber. E
hoje, com estas palavras, tento compensar aquilo que não fiz enquanto podia:
presentear-te pela mãe que eras, pelos presentes que me davas, pelo esforço e
dedicação que punhas em cada detalhe que preenchia a minha vida, pela infância
magnífica que me deste, por tudo aquilo que eras e que um dia também ambiciono
ser. Agora, depois de teres partido, não posso presentear-te pelo que eras mas
uso estas palavras para te presentear pela marca que deixaste, pela saudade que
fazes ter, pelos ensinamentos que nos deste a mim e à Tocas (é o que eu chamo à
Rita quando estamos simpáticos um com o outro, que agora é mais vezes, como tu
sempre pedias!), presenteio-te pela força que, mesmo não estando aqui, me dás
para encarar o futuro com o sorriso que me ensinaste a ter. Espero que, estejas
onde estiveres, este presente chegue até ti e sintas o amor e o orgulho que,
antes agora e sempre, sinto em ser teu filho.