Hoje
dei por mim a olhar fixamente para a tua fotografia em cima da estante da sala,
aquela que pedimos para fazer quando partiste para, fisicamente, nunca nos
esquecermos de ti. Olhava para ela enquanto pensava em ti e da mesma forma que
os meus olhos não conseguiam sair da tua imagem também o meu cérebro não
conseguia descolar da tua lembrança, da tua memória, não conseguia pensar
noutra coisa a não ser em ti e na falta que fazes porque 2 anos e 10 dias
depois fazes mais falta do que nunca. Fazes falta ao jantar por não falarmos do
teu trabalho e por não fazeres perguntas sobre a escola com um interesse tão
genuíno que enche o coração. Fazes falta quando trago a minha namorada cá por
não te poder mostrar o quão feliz ela me faz e, sobretudo, o quão feliz eu a
faço graças a tudo o que me ensinaste. Fazes falta nas festas com a família por
não termos a tua alegria contagiante em todos os momentos e ocasiões. Fazes
falta quando chego da universidade e não tenho um interrogatório completo de
tudo o que aconteceu naquela semana como sei teria quando chegasses do
trabalho, por mais cansativo que este fosse. Fazes falta nesta casa por não
haver as reprimendas que nos faziam arrumar, aos poucos, a casa: “Rui Pedro, as
sapatilhas.”, “Rita Sofia, a mochila não é para ficar no sofá.”. Fazes falta
nas noites de fim-de-semana por não haver lutas com cócegas e almofadas
enquanto a televisão transmite programas sem interesse e a lareira enche a sala
de luz e calor. Hoje dei por mim a olhar fixamente para a tua fotografia em
cima da estante da sala e senti saudades de falar contigo, de contar como foi o
meu dia e rir de uma piada que li na internet, senti saudades de cantar contigo
a música que passa na rádio enquanto conduzes para qualquer lado, senti
saudades de ouvir “Rui Pedro, larga o computador.” e senti saudades do teu
sorriso que todos os dias aparecia para iluminar a minha vida, e hoje, estejas
onde estiveres, esse sorriso chega até mim, pela fotografia, pelas lembranças,
pelas memórias e sorrio também porque, como sempre dizias, era assim que
gostavas de me ver.