Um
raio de sol entrou pelo meu quarto como se eu não estivesse lá, invadiu tudo
com a luz ténue daquelas manhãs de inverno que vemos nos filmes e senti o braço
esquerdo gelado, abri os olhos e voltei a cobri-lo, encolhendo-me na cama a
pensar em ti, no quente dos meus lençóis onde faltavas tu e o teu sorriso
matinal a completar um “bom dia” sonolento com um beijo fofinho. Decidido,
levantei-me e tomei o pequeno-almoço enquanto a televisão, entretanto ligada, acompanhava
cada colherada de cereais que desapareciam da caneca escaldante. Nesse
pequeno-almoço faltava o teu charme a passear pela cozinha, num pijama fofinho
e umas pantufas encantadoras, enquanto fazias torradas ou outra iguaria para nós
os dois. O fim do pequeno-almoço trouxe ainda mais determinação e fez-me sentar
no sofá agarrado ao braço da guitarra a tocar por ti, músicas que tu gostas de
me ouvir cantar e te delicias ao ver-me tocar. Aí, na emoção de cada acorde,
faltava a tua atenção fiel e os teus olhos brilhantes de orgulho, por mais
desafinada que a melodia estivesse. Depois da guitarra, foi o meu computador a
cativar a minha dedicação saltitante, entre jogos e outros jogos faltavas tu, a
acariciar o meu cabelo enquanto eu conduzo desenfreadamente um carro ou remato
bolas com outro clique num comando. “Chega de computador”, este pensamento
levou-me a folhear as páginas de um velho companheiro e a lê-lo, repleto de
magia e aventuras eternas. Nessa leitura calma faltava o teu silêncio a invadir
a minha mente e a derreter o meu coração, faltava a tua companhia e a tua
presença de página em página. Com tantas aventuras na cabeça, fui jantar algo
delicioso para ajudar a esquecer a tua ausência, mas mesmo aí faltavas tu com o
bom humor a tornar cada garfada mais apetitosa. Antes de dormir voltei à
leitura onde me fizeste ainda mais falta a cada palavra que fui lendo por faltar
o teu dedo a mexer no teu cabelo de forma sedutora e apaziguante. Por fim, a minha cama recebeu-me
de volta, disposta a lutar pelo meu sono com todo o conforto da minha almofada,
mas não adormeci, nem mesmo depois de voltas e voltas no meu cómodo colchão
consegui preencher o desconforto da tua falta com os olhos fechados e uma calma
extraordinariamente bonita. Durante todo este longo dia a falta do teu sorriso,
do teu corpo, da tua voz, da tua beleza, da tua perfeição tornou o meu dia mais
triste, mais difícil, mais solitário, mas foi também tudo isso que te pertence
e te define que me fez e, na verdade, me faz ultrapassar mais um dia em
direção àquele futuro apaixonante com que tanto sonhamos, e quando esse futuro
se tornar presente sei que olharei para trás, para dias como este, e todo o
esforço terá valido a pena, só para, em cada manhã de inverno, poder ver o teu
sorriso matinal a completar um “bom dia” sorridente.