Os miúdos correm pela
casa como se quisessem combater o frio que embeleza o exterior das janelas
embaciadas pelo cheiro natalício das rabanadas ou do bacalhau já pronto a ser
servido entre gargalhadas e aqueles presentes que durante um ano inteiro todos
sonharam ter. Depois de uma fatia pão-de-ló com queijo vi nos teus olhos aquele
brilho que me apaixonou num dia quente de primavera e, já nessa longínqua e
acolhedora estação, me fez saber que a mulher da minha vida tinha cabelos
castanhos e orelhas fantasticamente bonitas, fez-me sentir orgulhoso de ser o
príncipe mais feliz de todos os principados neste dezembro friorento. A lareira
crepitava calmamente como o teu sorriso quando elogiei o jantar e amarrei o
nosso menino mais novo para lhe fazer a pergunta mais simples do planeta: “a
mãe é bonita não é?”, deixei-o continuar a correr depois de, muito sério,
abanar freneticamente a cabeça com um sim sincero e fofo que também a mim me
fez sorrir.
No momento alto da
noite, naquele momento em que o vermelho do Pai Natal traz a felicidade ao
mundo das crianças e à vida dos adultos, quando os nossos filhos soltaram um
“uau” em coro e se gabaram entre si daquilo que receberam, os teus olhos
embateram no castanho dos meus com um orgulho embebecido de quem tem um mundo
inteiro a abrir presentes e a sorrir com o frio aconchegante de mais um Natal
perfeito.