quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Biologia criativa!


Agora apercebo-me que a Biologia que aprendemos na escola é engraçada. Imagino os nossos códigos genéticos a encaixarem-se quase totalmente porque, afinal, não somos assim tão diferentes, distancia-nos apenas um cromossoma no último par e alguns atrevidos nucleótidos da cor do cabelo ou do tamanho do corpo. Imagino o nosso ancestral comum orgulhoso de ter dado origem a uma espécie repleta deste amor só nosso e que nos caracteriza. Imagino os nossos ciclos de vida, a caminharem por mitoses sucessivas num sentido único e com um destino comum, como duas estruturas análogas, totalmente diferentes mas a caminharem para o mesmo fim, para o mesmo objectivo vital. Imagino a selecção natural do meu coração, o meu músculo apaixonado, como se fosse o meio ambiente do meu Darwinismo original, a eliminar, um a um, todos os inadaptados ao vermelho bombeado para todo o lado, a eliminar cada sentimento inapropriado ou sem sentido, deixando-nos apenas a nós, ao nosso amor solitariamente perfeito, ao nosso sentimento simples e imenso, à nossa paixão eterna e bonita. Imagino as nossas veias cavas a trocarem mensagens escritas falando das escassas novidades de um dia longo de trabalho e, quem sabe, a combinarem uma ida ao cinema ou um passeio calmo pelo seu mundo circulatório. Imagino o alívio dos nossos corpos ao serem colocados no mesmo reino, ao serem colocados na mesma espécie e população, o brilho dos meus olhos por, com esta classificação prática, poderem ver-te diariamente e orgulharem-se da beleza que carregas. Imagino um par de glóbulos vermelhos, um meu, um teu, a percorrerem alegremente o seu eterno e complicado caminho, cansados mas determinados a continuar por estarem unidos. Depois de imaginar tudo isto esqueço a Biologia que damos na escola e sei, sei que acima daquilo que esta ciência explica estamos nós, felizes, apaixonados, juntos.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

António Vieira e o nosso moderno século XXI


António Vieira, um nome demasiado crítico para um homem de Deus, um nome demasiado atual para um longínquo século XVII, um nome odiado pelos seus conterrâneos e pelos meus, talvez por serem iguais, talvez por serem ambos o alvo preferido das palavras ora antigas ora atuais deste padre que poderia ser, hoje, chefe de um partido da oposição ou, quem sabe, um defensor reconhecido dos direitos Humanos.
Mas o que mantém esta crítica do sermão aos peixes tão atual? Talvez seja a falta de evolução na forma de pecar do Homem. Se antigamente a ganância e o egoísmo eram abundantes, hoje ainda são mais, os homens que antigamente se comiam uns aos outros, hoje fazem-no com mais requinte e etiqueta mas não deixam de o fazer. Mas a falta de imaginação humana não se fica por aqui. Todas as críticas feitas aos peixes e, portanto, aos homens desse antigo século XVII podem ser encontradas num particular grupo da nossa sociedade, quatro séculos mais tarde: a arrogância e a coragem, que pode facilmente ser confundida com estupidez, dos pequenos roncadores parece ter inspirado as ideias dos sindicalistas atuais que, sem poderes, criticam e chamam a atenção dos grandes tubarões; a dependência e o oportunismo dos pegadores do mar é a imagem de marca dos jornalistas de hoje, que fazem carreira “empoleirando-se” nos famosos que destroem e dos quais se alimentam para viver. Tal como aqueles peixes oportunistas, também os homens e jornalistas morrem quando o gigante de que se alimentam morre; a desmedida ambição dos peixes voadores, presente na maioria dos empresários e homens de negócios do século XXI que, inconsequentemente, voam pelo ar e nadam pelo oceano, desafiando os perigos dos dois elementos que, mais tarde ou mais cedo, o acabam por matar; e, por fim, a traição e o engano do polvo com que os políticos atuais sobem ao poder, ludibriando o povo eleitor com traições e mentiras pecadoras.
Portanto, um António Vieira atual só teria que copiar as críticas do seu antecessor e acrescentar a evidente falta de imaginação para pecar.